-> nem uma linha de amor

ela não viu quando as rosas começaram a morrer, também não enxergou o fim do verão, ao menos não nos olhos que perseguia. ela deveria ter entendido que aquele boa noite era, na verdade, um último cumprimento.

quando, enfim, absorveu o adeus, chorou toda noite. naquela noite ela quase morreu por ele. tentou negar que aquele sentimento a deixava louca.

mas chegou a conclusão que se o amor que ele tinha se acabou, se todas aquelas lágrimas não eram suficientes, então ela havia errado e permanecia errando. suas palavras não formavam nem uma linha de amor.

ela pensou que eles consegueriam ser aprovados no teste do tempo, mas aquela, como outras provas, foi apenas lenda em sua mente. ela queria tudo para eles, mas naquele momento era tudo tão doloroso que ela não via mais sentido em se salvar.

a dor que ela sentia, agora, era tão forte. a razão pela qual ela estava aguentando era por ter reconhecido seu erro. tinha errado, sim. por isso suas palavras não formavam nem uma linha de amor.

essa não é, então, uma carta de amor.

Vinícius.

-> vencido

alguma vez você já lutou quanto já estava vencido?
isso acontece quando uma sombra estranha rouba a nitidez da sua visão.
quando você acredita e já não há mais no que crer.
quando você tenta alcançar além do seu braço.
de repente você para.
nota que não ganha, não vence, não crê e não alcança por ter sido vencido.
só o que você sente, no momento, é um enorme cansaço.
uma vontade incomum de mais espaço no pulmão, nas caixas
para a entrada de mais e mais ar.
ar que impulsione uma nova luta.
essa com perspectiva. com vista para um horizonte
largo, desconhecido, ainda a ser desbravado.
então você percebe que a luta antiga era, de fato, antiga.
não fazia mais parte de você.
é quando ser vencido lhe garante a possibilidade de uma vitória.
por isso é importante estar atento.
não se esgotar numa luta que você já deixou de vencer
é guardar energias para uma futura vitória.

Vinícius Lírio [23/04/2007 - 20:33]

-> de um lado a outro

de um lado a outro
inquieto, queria cobertor.
de um lado a outro,
inquieto, trocava os sonhos,
selecionando-os.
de um lado a outro,
dormiu
e acordou
descoberto,
uma mente seletiva,
que sonhou tudo
sobre todos.

Vinícius Lírio

-> tempo

para ombros que suportam o mundo...
quando está sozinho,
quando a luz se apagar
e acender a certeza:
já não sabe sofrer...

cartas pessoais,
num tempo que não pesa mais
que a mão de uma criança,
provando por Cronos
e qualquer outro deus
que a vida prossegue.

Vinícius Lírio

P.S.: Novo layout, dessa vez inspirando-se na magia do tempo e na poesia de Drummond.