domingo, 26 de novembro de 2006

[ colecionando ciclos ]

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se nossa vida fosse um álbum de figurinhas, seriamos eternos colecionadores... mas de ciclos.
cada página do nosso álbum teria 365 dias [algumas com 366].
para cada dia uma figura que reunisse tudo que aquelas 24 horas nos trouxeram.
haja criatividade para os designers.
material não ia faltar. inspiração tampouco. talvez não sobrassem horas sufientes para o número de dados por figura. cada álbum é reflexo do que somos, de como agimos, de como agiram conosco, de como reagimos e voltamos a agir.
cada figura reflete o quanto aproveitamos, o quanto deixamos de aproveitar, o quanto desperdiçamos, o quanto percebemos e o quanto valorizamos.
cada traço de uma figura delineia as marcas que ficaram, formando as tatuagens da vida que dão origem ao tecido que recobre o corpo humano que veste a nossa alma.
hoje estou colando a última figurinha de mais um álbum. colecionando mais um ciclo, não sei se o melhor, mas mais um. foi. experiência.
é hora de abrir um novo álbum, preparar a cola e esperar que novas figuras sejam criadas.

vinícius lírio

FOTO: figura da vez. Por: Vinícius Lírio

segunda-feira, 20 de novembro de 2006

[ turn off ]

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queria sair.
a fechadura emperrou quando mais precisava abrir a porta.
quis ligar.
mas não encontrei a linha.
é tão normal querer uma coisa e forças maiores conduzirem a outras.
então vem a questão: até onde chega o domínio de nós mesmos?
até o semáforo reluzir vermelho?
até o relógio denunciar o tempo?
até a última chamada do vôo?
no primeiro quilômero da rodovia?
no 'see ya'?
na falta de paciência?
no mal humor das 5:30?
na espera encerrada?
na réplica que não vem?
até a linha do telefone voltar...
quando a fechadura abrir...
turn off.

vinícius lírio

IMAGEM: sonho perdido. de algum lugar da Web.

quarta-feira, 15 de novembro de 2006

[ quando vestimos a armadura ]


corre-se para não chegar.

grita-se para não ouvir.

silencia-se para perceber.

joga-se fora para encontrar.

vinícius

P.S.: Clipe de "Na sua estante", Pitty.

quinta-feira, 9 de novembro de 2006

[ quando existia fantasia ]

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se a vida fosse feita de papel
eu queria ser um barquinho por ela nevegar
nas águas do sem fim

se a vida fosse feita de papel
eu queria ser o branco que reluz sua infinitude
coberto pelas luzes que faz transparecer o não sei

se a vida fosse feita de papel
eu seria o lápis por ela a escrever
errando, apagando, eternamente recomeçando

se a vida fosse feita de papel
o mundo seria uma grante tela
onde o Artista mór transcreveu seu semelhante

se nós fossemos de papel
eu seria...

vinícius lírio

sábado, 4 de novembro de 2006

[ a reforma de Maria ]

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Toda parede um dia descasca, todo reboco um dia cede, toda porta um dia racha, toda pintura um dia mancha, todo alicerce um dia precisa ser reforçado.


Foi assim o entorno de Maria.


Maria que furava a parede quando criança para comer a terra que dela saia, saborosa, particular.


Mal sabia Maria que aquela parede era o que lhe protegia.


Um dia Maria, sem notar, deixou que furassem sua parede, provassem da sua terra, conhecessem seu sabor particular.


Assim como aconteceu com Maria quando cresceu, depois de enjoar do sabor da terra, quem dela provou se foi.


Maria também se foi, mas suas marcas na parede ficaram.


Logo veio o reboco como uma tela fina sobre a madeira desgastada. Beleza externa.


Maria também aprendeu a se rebocar. Usava uma tela fina em cores fortes para esconder as marcas de quando deixou provar de sua terra.


Maria passou por inúmeras reformas, talvez mais do que as paredes que a acolheram quando criança.


O reboco é como uma máscara que ilude. Por dentro as paredes estão corroídas, úmidas e já não se sustentam mais.


Se as paredes tivessem feito como Maria, estariam mais seguras. Maria não apenas trocou o reboco, mas derrubou os antigos tijolos de barro. Levantou uma estrutura que, a cada reforma, recebia um novo apoio. Maria reforçou seu alicerce a cada queda.


E assim vai Maria, sem comer terra da parede há mais de 60 anos, enxertando aço no seu alicerce há mais de 70.


Essa é a estória da reforma de Maria. Quem ainda não começou a sua, que comece, porque quanto mais demorar, mais gasto terá com os reparos. Ah, o reboco descasca, viu?! Revelando sem nenhuma tela as marcas e a ação do tempo sobre as nossas paredes. Então que a reforma comece do nosso alicerce primeiro: EU.



vinícius lírio


FOTO: a casa de Maria. Por: Vinícius Lírio.
Residência de minha mãe na infância e adolescência. Bairro do Acampamento, Queimadas-Ba.