tomou uma estrada na última sexta, numa noite branca, esperava chegar a tempo do natal. ansiava por ver sua mãe.
500 quilômetros ainda faltando, já estava quase sem esperança e sem gasolina. tinha sido um ano dificil. havia muito no que se pensar, tanto que não prestou atenção no quanto estava indo depressa. antes que se desse conta, já estava girando numa linha tênue, ignorada todo dia.
viu sua vida ante os olhos. era tudo tão rápido, que não se teve tempo para lágrimas. num súbito desesperado, jogou as mãos para o céu e pediu que fosse guiada pelo melhor caminho. já não queria mais estar no controle do volante - e não estava.
diante da quebra de uma linha tão frágil, percebeu que não podia fazer aquilo só. pediu, então, uma nova chance do lado de cá da linha. sentiu o frio aumentar sobre seu corpo trêmulo. o carro parou. e, como nunca havia feito antes, provou o sublime sabor do ar entrando e saindo do seu corpo. agradeceu e respirou.
sentiu que devia mudar. daquela noite em diante, hoje, respiraria cada momento. foi quando sua mãe disse que parasse de brincar com aquele carrinho e não continuasse a narrar histórias assim.
Vinícius Lírio